quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A volta ao mundo, sem sair daqui.

Por Josimar Melo
Fotos Tuca Reinés

Em São Paulo, a volta ao mundo pode durar menos de 80 dias. E pode ser feita sem sair da cidade – quando o assunto é comida, bem entendido.

Toda vez que visitamos uma cidade ou um país, nos deparamos com várias possibilidades de conhecer sua história, seus hábitos, sua cultura. Visitar seus museus é uma delas. Conhecer suas festas folclóricas, suas músicas populares, é outra. E dentre tantas, uma das mais ricas maneiras de conhecer um povo, uma civilização, é provar sua comida.

Mas isso não significa provar apenas a comida típica, regional, mas também tudo aquilo que por ali se come, tudo o que faz parte de seus hábitos, venha de onde vier.

Veja o caso de São Paulo. A comida do dia-a-dia, que se encontra nos botecos, nos restaurantes populares ou na casa das pessoas, já fala muito de nossa história – o arroz, o feijão, a farinha de mandioca, a pimenta, revelam ao mesmo tempo, e em um só prato, nossa formação portuguesa, ameríndia, africana. Já por si só é uma aula de história.

Mas um passeio pelas mesas de São Paulo vai revelar também outro traço de nosso passado recente – o mosaico de culturas que nos últimos séculos se dirigiram ao Brasil, foram aqui recebidos e pouco a pouco acabaram se integrando.
Uma visita aos sabores da Itália e do Japão, por exemplo, está presente em qualquer esquina – são resultado de migrações de pouco mais de um século e que hoje fazem parte do perfil da cidade. Mas não é só. Sabores asiáticos menos populares aos brasileiros também estão presentes – como os aromas provocantes do curry indiano, ou modalidades de cozinha chinesa – como os dim sum – que se diferenciam do tradicional frango xadrez tão popular entre os paulistanos.

Da Europa vêm os conhecidos sabores mediterrâneos, dos franceses aos espanhóis; mas do mesmo continente vêm também os pratos frios da Escandinávia. Da América do Sul finalmente nos chegam as culinárias peruana e andina, que apesar da proximidade geográfica, nunca foram populares no Brasil. De outra cultura, a cozinha judaica aparece em restaurantes que festejam suas culinárias tradicionais (seja do Oriente Médio, seja dos países europeus), inclusive com endereços onde os rígidos preceitos kosher são aplicados na confecção dos pratos.

Picantes receitas mexicanas? Concentrados cozidos irlandeses? Cozinha que parece árabe, mas é armênia ou marroquina, churrasco que parece gaúcho mas é argentino ou uruguaio? Escolha o continente, a região, o tipo de sabor, e encontrará em São Paulo, uma cidade receptiva e acolhedora para quem vem de fora, especialmente quando os visitantes trazem consigo - e compartilham - todos os sabores de suas culturas.

Matéria publicada na segunda edição do Flavour Guide - Lugares Especiais, Sabores Únicos (BBD Editora).

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